A única sensação de paz advém da máquina de lavar loiça que trabalha em casa da minha melhor amiga, que também me deu guarida nestes tempos de angústia. A felicidade dos outros cheira-me a óleo queimado. Comi os fritos mas deixaram-me enjoada. A dura realidade nas perdas concentra-se na incerteza. Elas chegam como um camião descontrolado, abalroando os rails, chocando de frente com o nosso carro e fazendo alguns danos colaterais. O airbag dos dois ou três primeiros dias deixa-nos atordoados, à espera de socorro. Inevitavelmente, descobrimo-nos aparentemente ilesos, mas com feridas internas que perpetuarão até ao fim dos tempos.
Odeio e invejo a felicidade dos outros. Invejo-a porque sei como é boa. Odeio-a porque também já foi minha. Enoja-me porque ousei sonhar. As batatas fritas souberam-me pela vida para agora ansiar vomitar tudo e esquecer que um dia foram o meu prato preferido.